Nas últimas décadas verificamos uma mudança acentuada na forma como encaramos o trabalho e a sua conciliação com a vida familiar.
Se é certo que nos lembramos das gerações mais velhas como aquelas que viviam para trabalhar, hoje não são poucos os casos em que se reconhece nas pessoas uma vontade maior de conjugar as várias esferas da sua vida: deixar tempo para viajar, aproveitar para estar com amigos e família e realizar atividades que complementam o sentimento de realização.
Esta mudança de paradigma está, sobretudo, relacionada com as mudanças que foram surgindo na sociedade ao nível da perceção e avaliação da importância do trabalho. Se, por um lado, o trabalho surge frequentemente associado a ambição, estatuto, poder e à noção de que para se manifestar um ou mais destes elementos a pessoa terá de se dedicar inteiramente ao trabalho e abdicar de outras áreas da sua vida, por outro, surge também a necessidade e disponibilidade mais presentes nas novas gerações de realizar novas experiências e de alargar horizontes, visto que vivemos num mundo mais globalizado e de mais fácil acesso a um elevado número de pessoas, locais e realidades.
De uma forma aprofundada poderemos dizer que existem várias razões para o trabalho ter uma preponderância na vida da pessoa maior do que as outras áreas. Para muitas pessoas o trabalho é essencial, pois é encarado como a oportunidade de desenvolver conhecimentos, aprendizagens e de alcançar a autorrealização. Para outras é encarado como um meio para adquirir sustento pessoal e familiar, sem o qual não conseguiriam assegurar as suas necessidades e alguns dos seus desejos. De facto, se considerarmos o tempo que passamos a trabalhar este assume-se como uma das principais atividades da vida humana, pelo que deve ser vivenciada de forma saudável e equilibrada.
Serão vários os casos de pessoas que conhecemos que vivem para trabalhar: saem cedo, voltam a casa só à noite para descansar e retomar o mesmo ritmo no dia seguinte. Existem também casos em que o equilíbrio entre o trabalho e outras áreas da vida é tão difícil de alcançar, em que o foco demasiado intenso no trabalho acaba por ser forma e consequência desta gestão. Quando o trabalho se torna uma dependência há várias manifestações que podem ser preocupantes e chegar mesmo a situações de burnout. Alguém que aposta tudo apenas numa das áreas da sua vida manifesta desinteresse pelas outras e isso irá ressentir-se, possivelmente, mais tarde.
Alguns indicadores de que poderá estar perante casos em que as pessoas vivem para trabalhar são:
- pensar no trabalho, mesmo quando não está a trabalhar;
- adiar tirar férias;
- revelar incapacidade de delegar tarefas ou de trabalhar em equipa;
- incapacidade de recusar níveis de trabalho ou tarefas excessivas;
- sentimento de culpa quando não está a trabalhar;
- os familiares ou pessoas próximas criticam a sua falta de tempo e dedicação.
Por outro lado, poderemos pensar em pessoas que conseguem definir prioridades, planeiam e realizam atividades com os familiares e amigos e procuram outras atividades que gostem de fazer, sentindo-se mais realizados.
Atualmente já se encontram empresas que se preocupam e promovem esta conciliação através de medidas de apoio pessoal e familiar, uma vez que percebem que o retorno do investimento em prevenção de riscos psicossociais e, consequentemente, na saúde dos trabalhadores é muito mais significativo do que nos casos em que estes ficam progressivamente mais descontentes com as suas condições de trabalho e com índices baixos de motivação e produtividade.
De qualquer forma, nós, também, temos um papel importante na gestão das prioridades e na procura de melhores condições de vida, assentes em outras dimensões e atividades. Apresentamos algumas delas de seguida:
- Seja assertivo e saiba dizer não ao excesso de trabalho que sozinho não consegue realizar;
- Aprenda a fazer algo novo e diferente do que já sabe: é uma excelente forma de descobrir novos talentos em si;
- Esteja atento e reconheça os sinais de fadiga e elevado desgaste físico e psicológico: peça apoio profissional especializado, se for o caso;
- Encontre algumas horas para fazer exercício físico;
- Realize outras atividades culturais que lhe dão prazer: uma ida ao cinema, ao teatro, a um concerto ou outra atividade cultural;
- Conheça e aceite os seus limites: estes não são sinal de fraqueza.
Resumindo, será fundamental a procura do equilíbrio na interação entre o indivíduo, as suas condições de vida e as suas condições de trabalho, de modo a que seja possível desenvolver e potenciar as diferentes áreas da vida e, assim, permitir um ajustamento saudável e produtivo ao mundo exigente em que vivemos, sem prejuízo de nenhuma das áreas.
Aproveite o que cada uma das áreas da sua vida lhe dá, para um dia mais tarde não sentir que prejudicou algo muito importante para si!
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Especialista em Psicologia Vocacional e Desenvolvimento de Carreira
Acredito que todos os percursos devem ser feitos com entrega, determinação e autenticidade. Assim, no meu trabalho, a Orientação Vocacional é uma ferramenta essencial para tomar decisões mais acertadas e ajustadas àquilo que quer fazer e, sobretudo, ao que quer ser no futuro.