Dia internacional da Mulher
O Dia Internacional da Mulher lembra, pelo menos uma vez por ano, a importância de agir em prol da concretização do sonho de um dia ser alcançada a igualdade de oportunidades entre géneros. Para quem defende que não faz sentido celebrar este dia, porque isso é enfatizar o que se pretende combater, digo que no dia em que o sonho seja realidade deverá continuar a ser celebrado, como garante de que as conquistas não são revogadas e/ou destruídas, tal como o dia 25 de abril deve ser celebrado sempre, para garantirmos que todas as pessoas se lembrem que a liberdade que temos não é um dado adquirido!
O quão melhor tem de ser uma mulher para ter as mesmas oportunidades?
Ao longo dos últimos anos acompanhei muitas pessoas do género feminino em processos de transição de carreira, ouvi muitas histórias de mulheres que foram alvo de discriminação ainda em processo de entrevista, com perguntas diretas e/ou indiretas sobre o seu planeamento familiar. Imaginem o excelente trabalho de employer branding que essas empresas estão a fazer, muitos relatos de discursos condescendentes e carreiras interrompidas ou abrandadas, por terem estado fora uns meses em licença de parentalidade. O quão melhores as pessoas do género feminino têm de ser do que as pessoas do género masculino para poderem ter acesso às mesmas oportunidades?!
O cenário cultural e macroestrutural como grande desafio para as mulheres do século XXI
Um dos motivos que leva a que apenas 16% dos cargos de concelho de administração de empresas em Portugal sejam liderados por mulheres é de cariz cultural e macroestrutural, e não porque as pessoas acreditem racionalmente que os homens são efetivamente mais capazes. A cultura constrói-se em torno de valores e estes consolidam-se através das histórias que se contam, tem de se contar mais histórias de sucesso das mulheres em cargos de liderança e em iniciativas de empreendedorismo, e contar mais histórias que desconstruam estereótipos de género como, por exemplo, que só as mulheres podem cuidar dos filhos e que os homens não têm capacidade para fazer tarefas domésticas. Tem de se falar dos estudos realizados que apontam para maiores taxas de sucesso com lideranças femininas.
Se nos últimos 30 anos há mais mulheres licenciadas do que homens e nos últimos 10 anos há mais mulheres doutoradas do que homens, porque que isso não se reflete em termos salariais e hierárquicos?
Acredito que uma das soluções passa por estimular uma cultura organizacional horizontal e matricial, que promove a rotatividade de responsabilidades dentro de uma equipa e de uma organização e de gestão de desempenho, com enfoque na avaliação de competências conjugada com o desenvolvimento de competências de personal branding.
A desconstrução de estereótipos
Considero, também, relevante que as iniciativas que visem a desconstrução de estereótipos de género sejam direcionadas para todos os géneros e não cultivar uma lógica de guerrilha de mulheres versus homens, porque os estereótipos estão instalados em todas as pessoas, independentemente do género. Não é o género que dita os estereótipos, mas sim a cultura e a falta de espírito reflexivo e crítico de cada pessoa.
Considero que será relevante trabalhar a identidade profissional nos diferentes segmentos do mercado, para que se possa olhar de modo neutro para um homem a trabalhar como educador de infância e uma mulher como CEO.
Histórias que promovem a igualdade de género
Na ALENTO, felizmente, há muitas histórias que acredito constituírem bons exemplos, com as limitações que uma micro empresa tem, não deixou de em 2023 colocar em prática uma política de incentivos à natalidade com o desafio de gerir uma equipa de 5 pessoas com 3 licenças de parentalidade, duas dessas licenças de pessoas do género feminino e uma do género masculino. O ocorrido não foi fruto da política de incentivos à natalidade, porque só tivemos capacidade de a colocar em prática já depois do supracitado anúncio, para a ALENTO o pequeno contributo que conseguiu dar a estas pessoas foi uma forma de reforçar a mensagem de que estão seguras, que a sua carreira poderá continuar normalmente após as licenças de parentalidade.
Num dos casos, por já estar prevista uma promoção, a ALENTO fez questão de anunciar a mesma ainda antes da pessoa ir de licença de parentalidade. Infelizmente o nosso país ainda não demonstrou capacidade de proporcionar maiores licenças de parentalidade, mais incentivos à natalidade e de suportar os custos de licença de amamentação, que numa empresa com 5 pessoas significa uma redução de 25% da força de trabalho, em 60% das pessoas, eventualmente durante anos. É um esforço grande para esta micro empresa, como para milhares de outras empresas, no nosso caso estamos muitos felizes com a equipa que temos, uma empresa deve ser um projeto de longo prazo com diferentes ciclos, a nossa esperança e vontade é poder proporcionar as melhores condições possíveis para que o work life balance seja uma realidade e para que esta equipa, com várias pessoas do género feminino, assim se mantenha.
Acredito que a ALENTO tem feito a sua parte, hoje a pessoa que ocupa o lugar de CEO na ALENTO é uma mulher, Andreia Contenças, que entrou em 2014 como estagiária e que há dois anos lidera esta empresa, melhorando os procedimentos internos, aumentando o volume de negócio e melhorando a cultura e clima organizacional. Foi e é um trajeto meritocrático num local em que a competência e os resultados ditam os caminhos das pessoas.
São tantas camadas para explorar, que trabalhar na superfície pode ser a missão de uma vida!
Numa altura em que sinto que o 25 de abril devia ser celebrado várias vezes por ano, espero que o dia 08 de março, num futuro próximo, seja meramente simbólico e que retrate uma realidade distante, mas, hoje, tem de ser um dia que nos lembre que diariamente devemos pugnar para que as pessoas sejam escolhidas em função das competências e não por uma questão de género. Enquanto empresário quero que a minha empresa dê lucro, sempre com sentido de responsabilidade social, o que tenho observado é que as lideranças femininas na nossa empresa são o garante do lucro e a responsabilidade social é garantida pela igualdade de oportunidades a todas pessoas. As empresas devem contratar pessoas e não géneros.
Esta é a opinião de um homem que está atento, que age em prol da igualdade de oportunidades e que sabe que nunca vai entender totalmente o quão difícil é ser uma pessoa do género feminino no mundo.
Consultor ALENTO