Como já abordamos anteriormente no artigo “6 Perguntas e Respostas sobre Orientação Vocacional”, a realização de testes psicotécnicos pode ser útil em Orientação Vocacional como forma de medir algumas características psicológicas de quem está a realizar um processo de Orientação Vocacional e ajudar, assim, na sua escolha. Muitas vezes, os testes são utilizados em abordagens mais imediatas e com resultados de maior direcionamento para uma ou mais áreas vocacionais. No entanto, a utilização dos testes deve sempre ter em conta as características e necessidades da pessoa que estamos a apoiar, ao nível da sua orientação académica e/ou profissional. Deve, portanto, ser contextualizada e complementar a outras metodologias mais qualitativas, de exploração e reflexão crítica sobre si mesmo e sobre as oportunidades que o rodeiam.
“Cabe ao psicólogo não só guiar os clientes nas atividades a desenvolver, mas também questioná-los acerca dos conteúdos por eles referidos, de forma a capacitá-los a explorar, examinar e avaliar mais em profundidade experiências de vida (…)” (Leitão, 2004, p. 256). Assim, num processo de Orientação Vocacional em que se pretende promover o autoconhecimento e a identificação de características, competências, interesses, valores e influências para as suas escolhas, os testes psicotécnicos assumem-se como mais uma ferramenta estruturada que apoiará a restante exploração. Apresentar apenas os resultados de testes vocacionais acabaria por ser redutor e deixar sempre muitas questões e dúvidas quanto ao caminho a seguir.
A primeira coisa que deve ter em mente é que deve procurar sempre o acompanhamento por parte de um profissional especializado que possa analisar consigo qual a melhor abordagem a utilizar, bem como, favorecer a complementaridade das diferentes metodologias. Os testes podem ser uma forma de indicar alguns caminhos e eliminar algumas opções dentro das muitas que existem, mas não a única.
Para além disso, a construção do seu projeto vocacional está dependente do potencial de promoção de áreas e competências que estão menos desenvolvidas e da evidenciação das áreas mais fortes, algo que os testes podem ajudar a identificar e que acabará por ter impacto concreto no nível de investimento e compromisso com o seu projeto vocacional.
Fazer a opção de acompanhamento de um processo de Orientação Vocacional de qualidade orientado por um profissional da área pode ter um impacto muito significativo no seu percurso, uma vez que, ao longo desse trabalho, lhe serão dadas ferramentas para lidar com as incertezas, dúvidas e desafios atuais e de futuro.
Importa, assim, que não esqueça que a escolha será sempre um ato pessoal, autónomo e responsável que se refletirá nos objetivos que vai identificar e no caminho que vai realizar até os alcançar.
A realização de um teste acaba, muitas vezes, por ter uma conotação de avaliação, de resposta certa ou errada, que deverá ser esclarecida e combatida. Nos testes de orientação vocacional não existem respostas corretas ou incorretas, pelo que as deve dar pensando no que melhor corresponde às suas atitudes, comportamentos e interesses presentes no seu dia-a-dia, de forma sincera e espontânea. Deve, por isso, tentar evitar aquela que seria a sua perceção do ideal de resposta ou o fator de desejabilidade social, nomeadamente em relação ao psicólogo ou familiares. Do mesmo modo, deve ter a preocupação em fazê-lo sem elementos distratores ou estímulos que perturbem a concentração e foco na atividade que está a ser realizada, sendo fundamental que sejam dadas instruções claras desde o início de forma a entender o propósito da atividade, estar assegurado um ambiente confortável e bem iluminado e, também, garantir que tal não acontece se não estiver nas condições ideias para o fazer.
Na realidade, quanto mais sinceras e ajustadas aos seus diferentes contextos de vida forem as respostas, mais precisos serão os resultados. Da mesma forma, quanto melhor for a articulação e integração, feitas pelo psicólogo, da informação obtida com recurso aos testes e a outras metodologias, mais fácil será identificar fidedignamente as suas principais áreas de interesse, de ajustamento e realização profissionais.
Para além disso, os resultados também irão depender do nível de conhecimento e informação que cada um tem acerca de si mesmo e do universo vocacional e profissional. Muitas vezes podemos ter ideias pouco estruturadas e realistas em relação ao mundo que nos rodeia e até mesmo das nossas competências, pelo que o apoio de um profissional especializado em Orientação Vocacional é fundamental. Este irá ajudá-lo na exploração das diversas áreas, nos esclarecimentos quanto aos cursos/oportunidades disponíveis e à viabilidade das diferentes opções. Existem, assim, constrangimentos associados às condições de acesso das possíveis escolhas (e.g. localização de diferentes cursos; se a instituição de ensino é pública ou privada; as provas de ingresso necessárias e médias dos jovens) que são importantes ter em consideração e que não são possíveis de contemplar nos testes psicotécnicos.
Deverá, assim, encarar os resultados dos testes sempre de forma dinâmica e adaptativa e apenas como indicadores, pois refletem um determinado momento da vida e critérios de escolha que poderão ser, certamente, diferentes mais tarde.
Resumindo, não permita que seja apenas um teste a determinar o seu futuro. Faça do teste um aliado e não mais do que isso na construção de um caminho que é complexo e abrangente. Esta é uma oportunidade única para se conhecer melhor, explorar as suas experiências de vida e pensar no que quer ser e fazer na sua vida.
Artigo de Opinião, Mafalda Vasconcelos