Competência é daquelas palavras que ouvimos e falamos, mas não paramos para pensar “o que é?” E para si, é fácil dizer o que é competência?
Artigo de Opinião, Bianca Lima Santos
Ao longo da nossa vida ouvimos que quando formos fazer algo, temos que fazer bem, “temos que ser competentes”. Por outro lado, quando não se sabe fazer bem, salta logo da boca a palavra “incompetente!”. Mas o que é competência?
Existem várias definições para a palavra competência, uma das mais conhecidas está baseada no CHA, Conhecimentos, Habilidades técnicas e Atitudes comportamentais, que o indivíduo possui. Posso dizer-vos que o conhecimento está ligado ao que aprendemos na nossa vida académica, já as habilidades relacionam-se com a nossa vivência, a prática e o domínio adquirido e, por último, as atitudes relacionam-se com o comportamento humano, os nossos valores, sentimentos e emoções. Para McClelland, psicólogo americano e um dos pioneiros a iniciar os debates sobre este tema, a competência é uma característica implícita à pessoa, estando relacionada com o alto desempenho ao realizar uma tarefa ou situação.
É importante perceber, caro leitor, que as competências que uma pessoa possui não podem estar reduzidas a um único conhecimento, afinal nós seres humanos somos bastante complexos. Dito isto, gosto do conceito do Dr. Guy Le Boterf, professor da Universidade Sherbrooke, e atualmente uma pessoa com muito conhecimento no que toca o desenvolvimento de competências. Para Le Bofert, nós cruzamos três grandes eixos, a nossa biografia, a nossa formação educacional e a nossa experiência profissional. Por outras palavras, a competência é uma construção, resultante de uma combinação de vários recursos cognitivos, que têm a ver com os conhecimentos, as redes de informações, as redes de relacionamentos e o saber fazer.
Nas organizações o debate sobre o que é competência vai muito além do CHA! De acordo com esta teoria, a competência é um conjunto de capacidades humanas, com o foco na pessoa, que têm que estar alinhadas com as competências que as organizações necessitam para os cargos e/ou funções. Por outras palavras, não basta ter as competências, elas têm que fazer match com as necessidades mapeadas pela empresa. Isto pressupõe a ideia de algo fixo, no sentido em que há um planeamento prévio das necessidades e, com base nisso, procura-se alguém que se enquadre nesse mesmo planeamento.
Há quem seja totalmente contra esta definição, por exemplo, Lawler, professor na USC Marshall School of Business, um dos grandes nomes da Gestão de Recursos Humanos e Desenvolvimento Organizacional. Lawler acredita que este conceito é datado, sendo similar ao modelo taylorista e que, quando aplicado aos dias de hoje, é incapaz de dar respostas em organizações complexas, que estão constantemente a ser atualizadas devido à globalização. Para Lawler, as empresas devem competir não só pelo produto, mas pelas competências, onde o foco deve ser a atração e o desenvolvimento das pessoas que possuam combinações de capacidades complexas, que dê resposta às suas competências essenciais que possam marcar o diferencial da empresa.
Já percebemos que “competência” não é um conceito de fácil definição! Mas, ao longo deste artigo puderam ler sobre as definições de competências a nível individual, como por exemplo o que o professor Le Bofert define, mas acrescentei como é que este conceito se aplica às organizações, quando falei do CHA e de opiniões mais recentes como a do professor Lawler. A propósito, deixo claro que não existem teorias certas ou erradas, são pontos de vista e que temos que ter em conta o contexto no qual queremos inserir.
As “competências” são um tema cada vez mais em alta, e muito provavelmente ainda irá ouvir falar bastante sobre tudo o que as envolve. A Gestão por Competências, por exemplo, torna-se cada dia mais necessária nas organizações, pois este modelo surgiu como alternativa ao que era usado há anos, onde o foco era apenas nas habilidades técnicas. Sabemos que hoje ter apenas hard skills não é suficiente para ser um bom profissional, sendo, cada vez mais, as soft skills valorizadas no mercado de trabalho. Mas calma, falarei com mais detalhes sobre o que é e quais as características da Gestão por Competências num próximo artigo.
Se chegou até aqui já deve ter percebido o que é competência, e como ela pode agregar valor, não só a nível individual, mas, também, organizacional. Para finalizar e em forma de resumo, pode-se dizer que competência é a junção daquilo que é enquanto pessoa, das suas aprendizagens sociais, de como comunica o que sabe, do que construiu academicamente e do que aprendeu durante o seu percurso profissional, é usar o seu conhecimento e habilidades mostrando o que sabe fazer.
É praticamente impossível ser competente em tudo e em todas as áreas da nossa vida, contudo, podemos sempre identificar os nossos pontos menos fortes e procurar desenvolver estas competências. Há sempre como melhorar.