O que mais gosta de fazer nos tempos livres?
Quando são verdadeiramente tempos de ócio gosto muito de me dedicar ao meu jardim e aos meus animais de estimação. É algo que me une a mim e à minha família, lá em casa, somos todos apaixonados pelo jardim e por animais. Desde muito cedo que estamos envolvidos em atividades de voluntariado com animais abandonados e sempre tivemos vários em casa, agora são sete. Pratico também a modalidade de desporto Trail, com o meu marido, é um desporto de desenvolve as nossas capacidades de superação e o trabalho em equipa.
Fora da agenda profissional, também me dedico a vários projetos para a comunidade mais jovem e empreendedora, com a organização de Eventos TEDx. Recentemente concretizou-se um sonho de anos, a integração no voluntariado hospitalar, no centro hospitalar do Tâmega e Sousa.
Faz sentido, enquanto temos saúde, oferecer a nossa disponibilidade a desenvolver atividades que tragam valor acrescentado aos outros e a nós.
De que é que tem medo?
Ao fim de 41 anos de existência só tenho medo de uma coisa: perder a minha família. Obviamente que depois tenho medo de passar fome, não ter condições de dar alimento aos meus filhos, não ter disponibilidade para os acompanhar e lhes possibilitar condições básicas de vida.
O que a emociona?
Emociona-me ver os meus filhos crescer e integrarem-se na sociedade.
Os meus filhos biológicos, mas também os meus filhos de coração, jovens que desenvolvi amizade nos grupos que fiz parte, especialmente do Grupo de Acólitos de Lodares. Acompanhar o seu desenvolvimento e vê-los crescer, ter uma profissão, ver os seus sucessos e os seus sofrimentos emociona-me muito.
A amizade e convívio com os seniores, enche-me o coração, a aprendizagem que me proporcionam, pelas conversas e partilha de vivências. Somam sempre algo à minha vida e ao meu dia.
O que a deixa feliz?
Ter saúde e disponibilidade para conseguir dedicar-me à comunidade, oferecer-me a estar com os outros.
Partilhar experiências deixa-me muito feliz. Eu partilho a minha verdade, aquilo que vivi, não quer dizer que seja a verdade universal.
Como se caracteriza enquanto pessoa e enquanto profissional?
Enquanto pessoa sou uma curiosa, tenho diversos pontos da minha vida em que isso se verifica. Gosto de saber mais, tento sempre estar a aprender coisas novas e trazê-las aos outros porque acredito que tudo aquilo que fazemos na nossa vida, mesmo sendo pequeno, pode ser diferenciador e ter um grande impacto na vida do outro.
Gosto de ouvir, fui aprendendo ao longo dos tempos a ouvir. É algo que se trabalha, sei que há dez anos não era tão ouvinte como sou hoje. Trabalho essa capacidade todos os dias.
Em termos profissionais sinto que nasci para ser secretária. Ser secretária é estar disponível para o outro e para a organização, é uma profissão que exige um conhecimento transversal de gestão e da gestão da organização e somos a ponte entre as diversas equipas da organização. Ser secretária permite não ter tarefas rotineiras, ser multidisciplinar dentro daquilo que é a organização, o que é ótimo, somos facilitadoras.
Tenho uma forte aptidão para a área comercial, gosto de clientes e de desafios.
Como teve conhecimento do projeto SAGAZ?
Além dos meus filhos estudarem na Escola Secundária de Lousada, conheci o projeto SAGAZ através do Linkedin. Acompanhava a presença da ALENTO na rede social e foi através desta que me candidatei a ser Mestre.
O que a levou a querer ser Mestre SAGAZ?
O meu percurso de vida nos últimos anos foi de cruzamento com jovens, a quem dei alguma coisa mas recebi em dobro, nomeadamente oportunidades de eu própria crescer e ver o mundo de forma diferente.
Então porque não ser Mestre? Com o SAGAZ seguimos um modelo mais oficial e protocolar, com o papel de mestre e aprendiz, bem como é mais uma oportunidade de estar e dar apoio a jovens da minha comunidade.
Quem é a Mestre Alexandra?
A Mestre Alexandra gosta de estar atenta e procurar pontos de interesse comuns. Lançar temas e notícias que vou descobrindo ser do interesse do Aprendiz. Não faço muitas perguntas, não forço respostas.
Gosto de estar próxima, que me sintam como tal. Que saibam que podem contar comigo.
Decidir qual o jovem acompanhar foi difícil? Em que critérios se baseou?
Sim foi difícil. Todos os jovens tinham valor e necessidades de acompanhamento.
Juntamente com a outra Mestre definimos dois critérios relevantes para a seleção: jovens com dificuldades familiares e com necessidade de apoios financeiros para continuar estudos e, por outro lado, jovens com boas médias e área definida mas com necessidade de apoio para traçar alguns objetivos.
No grupo identificamos jovens que tinham as tais dificuldades, que precisavam de bolsa para dar continuidade aos estudos e tinham dúvidas nos processos de candidatura e burocracias necessárias. Também tínhamos o segundo caso, ou seja, jovens preparadíssimos para a universidade, mas com o caminho em aberto e a precisar de alguém que estivesse do lado de fora para ajudar a trilhar os seus percursos.
Decidimos que eu ficaria com a pessoa com mais dificuldades no sentido de apoiar nos procedimentos institucionais para obtenção de ajudas e a outra Mestre optou por alguém que se enquadrava no segundo critério.
Simpatizei tanto com alguns que depois durante a cerimónia protocolar decidi entregar o meu contacto a mais dois jovens para, caso quisessem, dar acompanhamento. Quando vemos alguém que nos cativa e com quem criamos empatia não devemos bater a porta, por isso mostrei-me disponível.
O Ricardo (Aprendiz) ficou muito contente e com o seu sorriso tão característico. Nos dias seguintes já estávamos em contacto, a partilhar informação e experiências. Pouco tempo depois do evento estivemos juntos presencialmente.
[A Alexandra escolheu, no dia do evento, uma Aprendiz que nos deu sempre um feedback muito positivo, no entanto a Alexandra enquanto “Mestre” disse-nos nas monitorizações que fazemos trimestralmente que sentia que a “Aprendiz” não estava a demonstrar o interesse esperado no acompanhamento. O SAGAZ não deixará por isso de acompanhar a “Aprendiz” em causa, estaremos sempre cá para quando quiser tirar maior proveito desta oportunidade. No entanto é justo que o tempo da Alexandra enquanto “Mestre” possa ser usufruído na plenitude por quem está totalmente disponível para o efeito. Deste modo o Ricardo, que desde início teve apoio da parte da Mestre passou a ser Aprendiz oficial, seguindo as normas protocoladas no SAGAZ. Bem-vindo ao SAGAZ Ricardo!]
De que forma é que este projeto e o jovem que acompanha têm enriquecido o seu perfil?
Conseguir ser visto por um jovem não é fácil. Para despertar o interesse do Ricardo tenho de exercitar o melhor que há em mim, tenho de me manter atenta aos seus interesses.
Para que mestre e aprendiz estejam em união temos de estar ao mesmo nível de humildade e de vontade. Essa humildade é algo que me torna numa pessoa melhor. Saber que ele está disponível para mim é uma alegria muito grande.
Como é a relação da Mestre Alexandra e do Aprendiz Ricardo?
Regularmente trocamos artigos que possam ser de interesse para ambos, curiosidades do mundo e da atualidade, das áreas de interesse dele. Por exemplo, o desenvolvimento das cidades e meios de transporte globais despertam muito interesse ao Ricardo. Tudo o que vou descobrindo sobre a sociedade partilho, depois comentamos e nisso o Ricardo tem um espírito crítico incrível, tem sempre alguma coisa a acrescentar.
Sente que o seu acompanhamento tem sido importante nas decisões e esclarecimento de dúvidas que o Aprendiz vai tendo ao longo do percurso académico?
O Ricardo está a estudar uma engenharia e faz o seu percurso académico normal, não tem influência direta da minha parte.
Influencio quando dou tópicos de estudo. O Ricardo vai ao encontro, pesquisa, tenta descobrir mais.
No que diz respeito às experiências e vivências, ele mostra-me que reflete e pondera sobre os temas. Há dias estávamos a falar da preparação para os exames e ele concordava comigo e pareceu-me que acolheu os meus conselhos sobre a temática.
Também partilhamos alguns tópicos pessoais, por exemplo no que diz respeito à prática desportiva, faz bem para a sanidade mental e para melhorar a capacidade cerebral.
Como é para a Alexandra partilhar conhecimentos e experiências com um jovem?
É algo que me deixa muito feliz. O meu percurso foi feito de forma diferente do convencional, não prossegui estudos no final do secundário, sem dúvida que senti a falta de alguém que partilhasse vivências e me desse impulso para fazer diferente, alguém que me pusesse a pensar. Podia ter sido diferente, não mais feliz, mas diferente.
Como define o Aprendiz Ricardo?
O Ricardo é um menino muito amável, um bom menino. É preocupado com os outros, sempre atento à família e à comunidade que o rodeia. Mesmo com o tempo ocupado, ele está disponível para os outros, seja em grupos de cariz religioso ou em grupos de desporto.
Estuda imenso, faz uma longa viagem diária de autocarro para estudar no Porto e continua sempre bem-disposto.
Que balanço faz da sua participação até à data?
Tem sido uma experiência ótima, mas gostava de ter outra disponibilidade. Neste momento o meu tempo é muito preenchido, gostava de ter mais encontros com o Ricardo, ele é um menino com quem se gosta de estar. Gostava de participar em atividades que fossem interessantes para ambos, dentro das áreas que nos unem.
Como vê o SAGAZ no futuro?
Vejo o SAGAZ como um projeto que melhora e desenvolve a humanidade que há em nós e nos jovens, por isso faz parte do futuro.
Acredito que no futuro vai se distinguir positivamente quem tiver valores e tiver a capacidade de aprender, desaprender e reaprender rapidamente. Estar próximo do Sagaz promove essa atitude seja através das ações do Sagaz, seja do acompanhamento dos Mestres enquanto profissionais. Este programa contribui para um maior humanismo e desenvolvimento às necessidades reais do mercado de trabalho dos Jovens. O SAGAZ tem esse poder. Não posso dar nenhum bem ao Ricardo, o que lhe posso dar é a partilha de valores e as minhas crenças para uma vida saudável e feliz.
Como vê o facto de alguns municípios apostarem no SAGAZ?
Foi uma ótima aposta da Câmara de Lousada aceitar a proposta da ALENTO.
O futuro são os jovens e este projeto é uma aposta válida para os jovens que começam a construir o seu roteiro de vida, no final do ensino secundário. Este é um meio de darmos a oportunidade aos jovens lousadenses de pensar o que querem no futuro, de desenvolverem espírito crítico.
Quer deixar uma mensagem final a quem nos der a honra de ler esta conversa?
O futuro de hoje e de amanhã é construído com base em experiências e não há livros nem teorias que possam ser tão valiosos como a partilha da experiência vivida one-to-one, os problemas resolvem-se melhor quando ouvimos a experiência dos outros.
Como Mestres temos de nos sentir honrados por ter alguém com humildade e disponibilidade para nos ouvir. Os Aprendizes devem sentir-se agradecidos às experiências partilhadas dos mestres, não é tão fácil como possa parecer encontrar profissionais disponíveis para a partilha da sua vida com jovens.