A sociedade tem mudado a um ritmo alucinante e isso tem implicações no dia-a-dia de cada um de nós. A pressão para sermos bons em todos os papéis de vida que assumimos é enorme e a gestão, por seu lado, é muitas vezes difícil.
Quando se fala na conciliação das dimensões do trabalho e família, duas das mais relevantes na vida de qualquer ser humano, a situação complica-se pela dificuldade em equilibrar as exigências profissionais com todas as tarefas familiares. Assim, a preocupação é ainda maior em casos em que existem filhos pelas implicações que pode trazer uma gestão desadequada em qualquer um destes domínios.
Alguns dados históricos
Se recuarmos até às últimas décadas do século XX, acompanhando o grande crescimento das sociedades industrializadas e as mudanças na composição socioprofissional da sociedade, percebemos que foram ocorrendo grandes transformações na configuração da família, sobretudo com o papel de crescente importância da mulher como elemento ativo na sociedade, aumentando para 60% esse número no ano de 2000 (Guerreiro et al., 2006). Isto veio implicar a necessidade de organização de toda a vida familiar.
Por todo o mundo parece haver uma tendência crescente para se debater este assunto, mas a sua representação continua a ser muito desigual. Se, por um lado, em vários países europeus, em que a mulher tem um papel muito ativo na sociedade, se tenta que haja um maior equilíbrio de estatutos e papéis atribuídos às mulheres e entre estas e os homens, em Portugal esta reflexão não é consensual e as aplicações práticas têm sido mais lentas do que seria desejável.
Não obstante, Portugal tem procurado apostar em desenvolver e implementar medidas pró-familiares que incentivam a conciliação da vida profissional com a vida familiar e promovem a justiça e coesão social.
Medidas que Portugal se propõe implementar
Recentemente o governo Português, anunciou um conjunto de 33 medidas que pretendem favorecer uma melhor articulação entre as exigências profissionais e os encargos da vida familiar. Assim, é importante estar informado e perceber como se podem aplicar e qual o papel das empresas e trabalhadores em todo este processo.
Dentro dessas medidas destacam-se as que se destinam a:
-
Criar serviços de acolhimento de crianças;
-
Criar serviços de prestação de cuidados a idosos;
-
Licenças para pais e mães trabalhadores/as;
-
Incentivar a maior participação do pai na vida familiar;
-
Flexibilizar a organização do trabalho.
Vantagens de maior harmonia entre o trabalho e a família
Apesar de nos parecerem óbvias as vantagens de se conseguir esta conciliação entre trabalho-família, continua a ser pouco clara a melhor forma de os conciliar, sem prejudicar um ou outro, mas existem várias razões para assim ser: muitas vezes as pessoas desconhecem a legislação em vigor que apoia boas práticas de conciliação entre vida profissional e familiar; há ainda uma resistência sentida nas empresas para a implementação de medidas promotoras deste equilíbrio; receio de críticas ou represálias por parte das chefias e colegas de trabalho, perda de oportunidades de carreira ou mesmo perda do próprio emprego.
Para além disso, muitas vezes os trabalhadores receiam recorrer a medidas pró-familiares, pois isso pode ser visto como sinal de priorização da família em detrimento do trabalho e, por isso, associado à fraca ambição. Desta forma, pode ser relevante recorrer a um programa de Gestão de Carreira, como forma de obter uma orientação profissional e ferramentas adequadas para trabalhar de forma articulada com os seus objetivos pessoais e de carreira.
Sabemos, através de vários estudos, que uma conciliação positiva entre o trabalho e a família e o apoio por parte das empresas aos trabalhadores nesse sentido tem consequências muito significativas para as pessoas, para as empresas e para o seu clima organizacional.
Apresentamos, assim, algumas vantagens para os trabalhadores e empresas da conciliação trabalho-família, em que se pode perceber de forma clara e evidente a vantagem para as empresas da implementação deste tipo de medidas nos seus contextos profissionais.
Para os trabalhadores:
-
Aumenta o seu nível da satisfação com ambas as dimensões da sua vida;
-
Melhora o seu desempenho profissional e produtividade;
-
Favorece a gestão de tempo e o estabelecimento de prioridades;
-
Melhora a disponibilidade emocional e temporal familiar também.
Para as empresas:
-
Aumenta a dedicação e comprometimento por parte dos trabalhadores com o seu trabalho e com a empresa;
-
Diminui os níveis de absentismo;
-
Aumenta os níveis de produtividade;
-
Alargamento do leque de potenciais colaboradores da empresa;
-
Tornam-se mais atrativas para os melhores profissionais;
-
Valorização da imagem da empresa, nacional e internacionalmente;
-
Potenciais candidatos e vencedores de prémios de divulgação de boas práticas de responsabilidade social.
Exemplos para uma conciliação trabalho-família equilibrada
Já são alguns os casos de empresas (TAP, CP, Espaço T, Bruno Janz, entre outras) que têm nas suas infraestruturas locais de apoio à família, nomeadamente creches ou infantários, salas de aleitamento materno, bem como proporcionam serviços de babysitting e favorecem atividades familiares em contexto profissional. Outras medidas podem estar relacionadas com trocas de turnos, teletrabalho, redução de objetivos no ano de nascimento do bebé, incentivos à educação dos filhos, escolha dos dias de férias, bem como, proporcionar ao trabalhador programas de coaching, gestão de carreira, saúde e bem-estar.
Em Portugal, com a população envelhecida a aumentar significativamente temos o desafio do incentivo à natalidade, acrescido da necessidade de assistência a idosos, tendo sido uma medida positiva a recente aprovação do estatuto de cuidador informal.
Assim, todas as medidas referidas de flexibilização em torno da dimensão profissional, tais como os serviços de apoio à vida, as licenças e medidas de apoio à parentalidade devem assumir-se como uma aposta efetiva fundamental por parte das empresas em medidas de promoção da conciliação da vida profissional, pessoal e familiar, uma vez que isso tornará os seus trabalhadores mais satisfeitos e realizados nas várias dimensões da sua vida e com uma predisposição maior para desenvolverem e melhorarem as suas diferentes tarefas e permitirá às empresas atraírem mais facilmente capital humano qualificado e motivado.
E todos sabemos que as empresas são, sobretudo, as suas pessoas e, por isso, se estas estiverem satisfeitas e realizadas, a probabilidade da sua empresa crescer é muito maior!
