O que gosta mais de fazer (nos tempos livres)?
Gosto de passar tempo com as minhas pessoas, com os que me dizem muito. Não importa a fazer o quê nem onde, se incluir comida é perfeito.
Gosto de viajar e também gosto de poder não fazer nada se assim entender. Também aprecio poder estar sozinha, ter tempo para mim, para me ouvir.
De que é que tem medo?
Tenho medo de perder as pessoas que gosto, é o meu maior medo.
Depois coisas mais simples, medo de alturas, mas tento enfrentar sempre que possível. É algo que não esteve sempre na minha vida, surgiu mais tarde. Não tenho medo de desportos de altura ou andar de avião, é mais de ir à varanda, por exemplo.
O que a emociona?
Emociona-me muito a solidão, a perda e a pobreza, seja de crianças ou idosos, assim como me emociona a sobrevivência diária de algumas pessoas.
Coisas simples que me emocionam… cantar os parabéns a alguém, pode parecer ridículo mas emociono-me sempre. Depois alguns abraços também me emocionam muito.
O que a deixa feliz?
Vai parecer clichê, mas o que me faz mesmo feliz é quando percebo que as minhas pessoas estão bem e felizes, não há nada que me deixe mais confortável.
Ter um papel ativo na comunidade também é muito gratificante.
Depois cavalos, cães e crianças, viveria muito bem no meio destes três seres, fazem-me muito feliz. Ah! E comer!
Como se caracteriza enquanto pessoa e enquanto profissional?
Gosto mais quando os outros me definem. Em termos pessoais, sou uma pessoa descomplicada, descontraída, não costumo engonhar. Por outro lado, também sou muito observadora e atenta aos outros e, normalmente, não me falham muitos detalhes. Não tenho esta característica devido ao meu trabalho, é precisamente o contrário, acredito que fiz a opção que fiz, em termos académicos, por ser assim.
Não sou fã de planos, não gosto de planear com antecedência, por exemplo, escolher roupa no dia anterior, é uma utopia para mim, não consigo fazer isso porque não me faz sentido nenhum. Gosto de ser espontânea e isso reflete-se muito no meu dia-a-dia, por exemplo adiantava-me trabalho se eu planeasse o jantar mas não faço a mínima ideia do que me vai apetecer comer.
Já no trabalho sou mais metódica, consigo planear, prever aquilo que vou ter de fazer, antecipar algumas tarefas. Raramente perco o fio condutor na vertente profissional, sou organizada q.b., sei fazer a minha gestão do trabalho e oriento-me consoante isso. Trabalho bem sob pressão e sob orientação. Gosto de ser questionada sobre as mudanças a implementar, raramente tomo decisões sob a minha vida profissional sem questionar uma ou duas pessoas da minha rede.
Como teve conhecimento do projeto SAGAZ?
Já conhecia o Sagaz antes de ser mestre. Em 2014 levei um grupo de alunos de Paredes a participar, estive do outro lado. Já conhecia o Artur e o Alberto de outros contextos profissionais.
Depois em 2016 fui convidada pela Alento para participar no Sagaz enquanto mestre e em 2017 também.
O que a levou a aceitar ser Mestre SAGAZ?
O facto de já conhecer de uma outra perspetiva, de perceber a importância do programa para os jovens. Foi muito fácil aceitar, senti-me privilegiada por ser convidada, por verem em mim competências que pudessem ser úteis aos jovens.
O Sagaz teve a primeira edição em 2013, foi mestre pela primeira vez em 2016. Voltou a ser em 2017, sente que houve evolução também na parte do acompanhamento que faz? Que de alguma forma a primeira experiencia lhe trouxe ensinamentos?
Eu não sei se comigo aconteceu dessa forma, faria sentido, mas não sinto diferença entre 2016 e 2017 na minha postura enquanto mestre. Considero, apenas, que fui para esta edição com um filtro maior do que fui em 2016. No primeiro ano, fiquei muito sensibilizada, com vontade de ficar com todos eles (jovens), senti-lhes a frustração por não serem escolhidos. Em 2017 já ia mais preparada, é assim que tem de ser, eles vão lidar com “nãos” a vida toda, têm de aprender a lidar com isso.
No dia do evento, a decisão sobre qual jovem acompanhar é-lhe difícil?
Em 2016 criei logo muita empatia com o meu aprendiz e já estava a imaginar o complicado que seria se a outra mestre o escolhesse também. À medida que os jovens foram passando complicou-se um bocadinho, não pela empatia que tivesse criado com outos mas porque surgiu-me uma dúvida: mas será que aquele é o que precisa mais de mim! Houve alguns jovens que demonstraram mesmo necessidade de orientação.
No final das apresentações enquanto eu e a Sandra [outra mestre na sala] estávamos a falar nos jovens que tinham passado e das nossas escolhas, o Carlos bateu à porta e pediu-nos se podia acrescentar duas coisinhas ao que tinha dito. Eu pensei: pronto já está, acabaste de conquistar o teu lugar. Porque percebi que foi preciso muita coragem e lata, mas ele correu atrás. Não deixou cair aquelas duas coisinhas que achou que eram importantes. Não faço a mínima ideia do que era porque não teve importância, valorizei o ato dele. Mostrou ser uma pessoa de garra e que luta pelos objetivos.
Em 2017 a Diana foi diferente, foi escolhida quase logo, foi criada muita empatia, a comunicação foi fácil, ela também dirigiu o olhar mais para mim. Era uma jovem com competências e soube demonstrar que precisava de algum apoio e orientação. Nenhum outro mexeu tanto comigo.
Enquanto pessoa e profissional, de que forma é que este projeto e os jovens que tem vindo a acompanhar enriquecem o seu perfil?
O facto de me olharem e verem alguém que pode orientar e que tem alguma experiência ou sabedoria é a maior responsabilidade que podem depositar em mim. Não pretendo mesmo falhar, não há ninguém que não possa enriquecer com o Sagaz. Também sinto aquela vaidade de poder orientar e estar lá para os jovens. Acima de tudo, a capacidade de darmos tempo a alguém e sentir na pele que isso é importante para eles. Isto faz-me um bem tremendo e eu adoro.
Baseia a relação Mestre-Aprendiz em que fatores? Acompanhamento mais formal ou informal?
Não é formal, de todo. A Diana ainda está a treinar essa parte mas vai conseguir. Com o Carlos foi quase instantâneo, a partir do momento em que sugeri quebrar a barreira dos títulos, ele imediatamente concordou e até disse que se sentia mais à vontade assim.
O respeito entre nós está presente desde o primeiro dia, a nossa comunicação é muito natural, descontraída. Eles percebem que somos ocupados mas que estamos aqui, mais hora menos hora acabamos por lhes responder às mensagens. Eu também não lhes ocupo tempo quando sei que estão em época de exames. Há esta compreensão dos dois lados.
Sente que o seu acompanhamento tem sido importante nas decisões e esclarecimento de dúvidas que os aprendizes vão tendo ao longo do percurso académico? Falamos de dois jovens, que apesar de próximos em termos de idade, estão em fases diferentes do percurso.
O Carlos quando terminou o secundário questionou-me sobre a opção que pretendia, no caso sobre a segunda opção em que veio a entrar, o que eu achava sobre o curso. Contudo, esta semana abordou-me sobre a possibilidade de mudar de curso, tentar concorrer à primeira opção. Eu achei fantástico, mas aprofundei o assunto, primeiro perceber o porquê do curso, não é só tirar porque é o curso do momento, ele focou-se muito na parte profissional e eu fui além, perceber se ele gosta, esmiuçar, ver se ele se imagina a trabalhar nessas áreas. Acima de tudo, tento que pensem além das saídas profissionais, sinto que os jovens estão muito presos a isso, coloco-lhe hipóteses, se gosta realmente da área, se se imagina a trabalhar. A Diana está numa fase diferente, aguarda o resultado de um exame, mas já falamos sobre as várias opções que tem. Ela é mais sonhadora, não pensa tanto na questão das saídas profissionais, pensa no que gosta de fazer, o que é bom, mas também não é suficiente. Com ela, será mais um trabalho de por pés no chão.
Com que regularidade costumam falar?
Nós não definimos nenhum timing. Com a Diana vou trocando mensagens. Com o Carlos o contacto já é um bocadinho mais esporádico. Depois da entrada na universidade, as dúvidas diminuíram e tem-lhe corrido tudo muito bem, é muito dedicado e não teve inquietações. É mais um contacto no sentido de perceber se está tudo bem.
Tendo dois aprendizes, sente que o acompanhamento dado varia consoante o perfil deles?
Os meus aprendizes são jovens diferentes e eu tento-me adaptar à personalidade de cada um.
A forma como eles reagem à nossa comunicação valida ou não se estamos no caminho certo. O feedback que eles me vão dando é que valida se a comunicação está a ser eficaz, mas tem corrido muito bem. Já sei que o Carlos é mais espontâneo na comunicação e a Diana mais tímida e isso faz a diferença na forma como nos aproximamos.
Nas monitorizações que fazemos temos recolhido feedback positivo dos jovens. Costuma ajuda-los não só através de conselhos, mas no apoio à construção/elaboração de materiais que eles precisam?
Para já tem sido mais apoio em termos de opiniões. O Carlos quando se candidatou à universidade estava muito por dentro do assunto, sabia o que tinha de fazer. À Diana já dei algum trabalho de casa, para perceber que cursos realmente gosta, ver onde existem, o que precisa para entrar, o que pode fazer no futuro. Quando precisarem de um apoio mais específico, estarei cá para dar.
Na opinião da Joana o SAGAZ deve continuar? Como vê o SAGAZ no futuro?
Claro que sim. E os jantares também.
O Sagaz tem de continuar, temos muitos jovens a precisar de orientação.
Imagino o Sagaz além de Lousada e de Celorico de Basto. O objetivo é crescer e expandir-se a outros municípios.
Que balanço faz da sua participação até à data?
O balanço é muito positivo. Por vários motivos, pelas pessoas fantásticas que fazem parte do Sagaz, desde os elementos que compõem a Alento, os Mestres, os Aprendizes, os elementos da Câmara que se envolvem à séria neste programa. Com o Sagaz conheci pessoas deliciosas e isso não tem preço.
Partilho experiências com pessoas que conheci, por exemplo a Diana em breve vem cá passar um dia comigo ao meu trabalho. É importante que percebam a organização do trabalho, a parte burocrática, porque nós fazemos muita coisa que eles não imaginam.
Também mantenho mais proximidade com um ou dois mestres. Temos coisas em comum e também falamos dos nossos aprendizes. O Sagaz é muito bom pelo networking.
Como vê o facto de alguns municípios continuarem a apostar no SAGAZ e a dar esta possibilidade aos seus alunos?
Eu faço uma vénia aos visionários do Sagaz! A Alento tem todo o mérito. Faço outra vénia àqueles que conseguiram ver através dos olhos da Alento as potencialidades deste projeto.
Estamos a apostar no futuro dos jovens e no nosso, eles são a nossa continuidade. Todos queremos jovens bem-sucedidos.
Depois promove este contacto desde cedo entre jovens e tecido empresarial, recuperar o legado de Mestre-Aprendiz. O Sagaz é uma aposta no futuro.
Quer deixar uma mensagem final a quem nos der a honra de ler esta conversa?
Quero reforçar este sentimento de gratidão e que julgo ser comum a todos os Mestres. Desengane-se quem pensa que este é um programa em que nós só damos, o Sagaz é muito mais que isto.
Recebemos mais do que aquilo que damos porque também crescemos, exigir um bocadinho de nós faz com dediquemos algum tempo a refletir sobre os caminhos mais acertados.
Às vezes andamos distraídos com o tempo, que é um bem precioso, por isso o mote para quem nos lê é: E vocês o que querem fazer com o vosso tempo?