Todos temos presente que as exigências ao nível da carreira foram mudando significativamente ao longo dos últimos tempos. Isto deve-se ao carácter dinâmico e flexível que os contextos de trabalho vão assumindo, às diferentes funções e experiências realizadas, exigindo de cada um adaptação constante. Sendo esta realidade tão diferente da sentida há décadas, não é também pouco comum que as pessoas sintam que lhes são pedidas outras competências para além daquelas que desenvolvem na escola ou na faculdade.
Assim, as soft skills são cada vez mais valorizadas em qualquer contexto académico e profissional e, por isso, a sua importância já não pode ser minimizada ou negligenciada. Desta forma, se pensarmos nos nossos projetos, pessoais e profissionais, procurando desenvolver outras competências e ferramentas será muito mais fácil conseguir-se fazer um percurso de forma integrada e significativa.
Iremos analisar, de seguida, algumas das soft skills que podem ser trabalhadas ao nível de um processo de Orientação Vocacional:
Para estarmos motivados para fazer um caminho e investir nele é necessário termos uma ideia de como pode ser esse percurso e do que este pode implicar. São inúmeras as vezes em que os jovens começam um processo de Orientação Vocacional confusos, sem rumo e, consequentemente, desmotivados de estudar ou de procurar saber o que vão fazer a seguir, que fará dali a vários anos. O futuro profissional parece ainda tão distante.
A verdade é que todos sentimos que o tempo passa a voar e, por isso, para o jovem, refletir sobre si mesmo e as oportunidades que o rodeiam ajuda a que se encontre e se foque, de forma motivada, no que é mais importante para si. É muito recompensador ver esta transformação nos jovens que passam por estes processos.
Ter a atitude certa no momento certo pode ser crucial em diferentes momentos da nossa vida. Uma pergunta certeira a um professor que percebe o nosso entusiasmo e perspicácia; a iniciativa de não esperar que as coisas aconteçam e lançarmo-nos num novo projeto e aventura; o encarar como oportunidades as experiências que nos vão surgindo. Este posicionamento é algo que pode ser desenvolvido nas sessões de Orientação Vocacional, através da antecipação de cenários possíveis, recorrendo a atividades de role-play e percebendo em que áreas o jovem pode ser melhor sucedido se o fizer.
A atitude positiva de que falamos anteriormente está, muitas vezes, interligada com a nossa autoconfiança. Se fazemos algo de que não gostamos e para a qual não temos apetência, o mais provável é que os resultados comecem a não ser positivos, o que leva a sentimentos de frustração e de falta de confiança. Começamos a duvidar de nós mesmos e se somos ou não capazes de realizar determinada tarefa. Estes sentimentos podem ir-se intensificando até que a pessoa passa a acreditar que não consegue e que não terá sucesso no futuro, o que terá consequências graves para o seu futuro. Por outro lado, se a pessoa acredita que é capaz e consegue realizar qualquer atividade com a convicção de que irá ser uma oportunidade para aprender e preparar-se melhor para outros desafios, isso irá fortalecer a sua autoconfiança, tornando-a resistente a frustrações e possíveis fracassos que poderão acontecer no futuro.
A nossa capacidade de tomada de decisão está, na maioria das vezes, dependente do nível de informação que temos em relação a nós próprios e ao mundo que nos rodeia. Se não pesquisamos ou não sabemos como o fazer, se se torna difícil distinguir o que é mais relevante e prioritário, claramente o nosso discernimento e capacidade para decidir estarão limitados. Num processo de Orientação Vocacional trabalhamos ferramentas de pesquisa e estratégias de análise e integração da informação recolhida, para que a escolha possa estar relacionada com o perfil e objetivos de vida e vocacionais de quem nos procura.
Da vasta experiência que possuímos nesta área é fácil ver que um dos fatores determinantes que impedem a decisão e a passagem à ação é a falta de planeamento e organização. Isto pode sentir-se na forma como vemos os jovens a adiar o estudo de uma disciplina, fazendo-o nas vésperas dos testes; na dependência que têm, frequentemente, dos pais para os incentivar a estudar ou para os lembrar desta ou aquela atividade letiva ou extracurricular; na falta de estruturação de objetivos para o curto e médio prazo, etc., o que provoca, não raras vezes, sentimentos de ansiedade, frustração e ineficácia. É certo que quando se é jovem tem-se tempo para aprender, mas também será que, se o fizerem o mais cedo possível e com ajuda profissional, mais fácil será definir objetivos, traçar planos e desenvolver caminhos para lá chegar. Em Orientação Vocacional as ferramentas de organização e gestão de tempo podem ser preciosas para que o jovem tome consciência do tempo e de como poderá usá-lo a seu favor, sem pressões e sem grande ansiedade.
Por último, será fácil perceber que todas estas competências estão interligadas e dependentes umas das outras. Da mesma forma, sermos flexíveis implica a nossa capacidade de nos adaptarmos a várias situações e contextos, percebendo a melhor forma de estar e agir, dando resposta às exigências e desafios que nos vão sendo colocados de forma motivada e assertiva. Esta capacidade é essencial nos dias de hoje, sobretudo pelo dinamismo e mudanças de que falamos no início e que estão constantemente a acontecer. Esta competência pode ser trabalhada através da exploração de formas alternativas de agir e pensar em situações já vivenciadas ou simuladas de acordo com o perfil e objetivos do jovem.
Resumindo, a realização pessoal e profissional e a adaptação de cada um aos contextos vocacionais transcende as suas competências técnicas (hard skills), sendo necessário, tão cedo quanto possível, ir trabalhando para as outras competências (soft skills) que lhe serão exigidas ao longo de toda a sua vida.
Artigo de opinião, Mafalda Vasconcelos