A Orientação Vocacional, como já foi abordado em outros momentos, pretende criar condições para os jovens explorarem o seu investimento vocacional, o que se baseia na identificação de valores, interesses, preferências e significados, bem como das oportunidades profissionais e de formação. É a partir da exploração destas dimensões e do desenvolvimento de competências vocacionais que surgirá a orientação para a ação e a implementação do projeto traçado, tendo em conta um equilíbrio entre desejos, objetivos, oportunidades e constrangimentos. Posteriormente será através de experiências de ação que o jovem terá oportunidade de transformar a sua relação com o mundo e melhorar o conhecimento de si próprio (Campos, 1991).
Assim, vamos conhecer quais as dimensões centrais num processo de Orientação Vocacional e porque é que estas são tão importantes para apoiar a escolha vocacional.
A nossa identidade define muito daquilo que gostamos, procuramos, das nossas preocupações do dia-a-dia e das escolhas que fazemos. Numa fase inicial do processo de Orientação Vocacional é necessário que o jovem aprofunde o conhecimento de si próprio para a realização das suas escolhas vocacionais e identifique as características pessoais, tome consciência das suas próprias dificuldades e potencialidades, assim como, identifique as características que podem constituir facilitadores ou constrangimentos para a concretização dos seus objetivos.
Os valores constituem uma bússola importante sobre aquilo a que procuramos dar destaque e prioridade na nossa vida. Ter isso definido na vida pessoal é muito importante, mas é também crucial levar o jovem a refletir sobre quais os valores que assumem ou podem vir a assumir um papel mais determinante no que diz respeito à vertente profissional. Para uns será mais importante ajudar os outros, trabalhar numa área criativa, para outros investigar e descobrir algo, trabalhar no exterior ou ser líder no seu trabalho. Seja quais forem as motivações, conhecê-las vai ajudar, em muito, a ir traçando de forma mais definida e significativa o itinerário vocacional. É importante também ter presente que os valores têm um caráter dinâmico e que, por isso, podem ir sofrendo alterações de acordo com as transformações e novas experiências que se vão proporcionado ao longo do desenvolvimento do jovem.
Como seria de esperar, perceber para que áreas temos mais aptidões, mais ou menos facilidade - ao nível das hard e soft skills -, pode apoiar a decisão sobre qual a área em que nos poderemos realizar no futuro. Para isso, realizam-se atividades e/ou inventários de avaliação das aptidões do jovem, tentando identificar quais os domínios de maiores capacidades e aquelas em que o jovem revela maiores dificuldades. A partir desta análise poderá ser mais fácil antecipar sucessos e obstáculos e desenvolver estratégias ou um plano de intervenção que ajude o jovem a potenciar os seus pontos fortes e esbater os pontos fracos.
Todos nós somos influenciados de muitas maneiras na nossa vida. A influência não tem de ser vista de forma negativa, mas deve ser explorada, percebendo o seu impacto na tomada de decisão. Uma das influências mais marcadas na construção da trajetória profissional dos jovens é a da família, uma vez que é nesse contexto que os jovens desenvolvem os seus papéis sociais, que têm um contacto mais próximo com algumas realidades profissionais e que recebem orientações de algumas áreas que, podem ou não, ser as mais indicadas para os seus perfis. No entanto, podemos ainda falar de outras influências muito marcantes na fase da adolescência - os amigos que vão para uma determinada área, as séries de televisão que vemos, os artistas ou youtubers que seguimos, etc. - que são importantes de não menosprezar, pois podem assumir um peso demasiado forte nas escolhas assumidas.
Nesta fase do processo revela-se fundamental dar oportunidade aos jovens de explorar, recolher informações e aprofundar os conhecimentos relativos às diferentes áreas que surgem como preferências e possibilidades de escolhas vocacionais, através de um conjunto variado de atividades, umas mais centradas na reflexão e outras mais estruturadas, podendo recorrer-se a testes e inventários vocacionais. Estas experiências de exploração, realizadas ao longo das sessões através da documentação escrita e suporte informático, revelam-se experiências de grande matéria-prima para a transformação, através da construção de novos significados (Gonçalves, C., 2017).
É a partir daí que se partirá para a exploração mais aprofundada das atividades profissionais, nomeadamente quais as funções, áreas de atuação, requisitos, contextos de trabalho e saídas profissionais de cada uma das opções que parecerem viáveis e se enquadrarem melhor com o perfil do jovem.
Depois da análise e integração de todas as dimensões anteriores dá-se lugar a uma exploração das principais condições de acesso, como provas de ingresso, ponderação de notas, médias de ingresso e disciplinas de cada um dos cursos, recorrendo ao site da Direção Geral do Ensino Superior (DGES), entre outros. Após a exploração das diferentes áreas profissionais e o jovem tendo conseguido adquirir a informação necessária para uma boa diferenciação dos seus interesses, deve ser realizada a sistematização do processo. Torna-se, no entanto, fundamental que o jovem continue, autonomamente, a exploração realizada no processo de Orientação Vocacional com apoio do psicólogo através dos meios utilizados e outros que encontre por si mesmo. Isto pode ser feito a partir da exploração formal ou informal, isto é, através de contactos com diferentes profissionais ou recorrendo a visitas a feiras pedagógicas e faculdades/empresas que serão uma mais-valia muito significativa para a concretização real e bem-sucedida do seu projeto vocacional.
Assim, após concluída estas etapas acredita-se que o jovem já possuirá as ferramentas necessárias à integração de todo o processo e, por isso, estará preparado para a sua tomada de decisão e para a traçar o seu itinerário vocacional.
Artigo de opinião, Mafalda Vasconcelos